
Sou barco lento que passa
com rumo desconhecido
ave que caiu na volta
de um vôo que não tinha ido
a branca flor do jasmim
que perfumou minhas noites
de sono que não dormi
e o tempo levou consigo.
Pecados não perdoados
pelos santos cometidos
o beijo que não foi dado
em lábios grossos, molhados,
hoje murchos, ressequidos
a dor que não foi curada
palavras nunca faladas
agora som de gemidos
o sangue no fio da espada
as cicatrizes mostradas
pelos rasgos do vestido
flor do jasmim amassada
dos sonhos que não sonhei
em sonos nunca dormidos.
Silêncio em tempo de guerra
intercalando estampidos
corpo tombando por terra
sem vida e sem ter morrido
sinos que nunca dobraram
corpos que não se tocaram
amor que nunca foi feito
mas teve um filho parido
tão triste quanto o jasmim
que perfumou minhas noites
de sono que não dormi
de sonhos que não sonhei
de amores que não fiz
em dias já esquecidos!
João Braga Neto
Direitos Reservados