quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jaz Mim


Jaz Mim

Sou barco lento que passa
com rumo desconhecido
ave que caiu na volta
de um vôo que não tinha ido
a branca flor do jasmim
que perfumou minhas noites
de sono que não dormi
e o tempo levou consigo.

Pecados não perdoados
pelos santos cometidos
o beijo que não foi dado
em lábios grossos, molhados,
hoje murchos, ressequidos
a dor que não foi curada
palavras nunca faladas
agora som de gemidos
o sangue no fio da espada
as cicatrizes mostradas
pelos rasgos do vestido
flor do jasmim amassada
dos sonhos que não sonhei
em sonos nunca dormidos.

Silêncio em tempo de guerra
intercalando estampidos
corpo tombando por terra
sem vida e sem ter morrido
sinos que nunca dobraram
corpos que não se tocaram
amor que nunca foi feito
mas teve um filho parido
tão triste quanto o jasmim
que perfumou minhas noites
de sono que não dormi
de sonhos que não sonhei
de amores que não fiz
em dias já esquecidos!


João Braga Neto
Direitos Reservados

"VIDA FÁCIL"





"VIDA FÁCIL"


Seio médio, imaturo,
que no tecido barato,
transparecia de fato
mostrando mamilo escuro.
Coxas da tenra idade
em sua pré-puberdade
em toda extensão se via
quando os braços desnutridos
para mim ela estendi
ao que elevava o vestido!

Uma criança morena
que sangrou o meu coração
era a estrela da cena
no estribo do caminhão
adolescente pequena
num vestido de algodão!
Os lábios que de vermelho
forte batom coloria
não disfarçavam o medo
que esta criança sentia.
Nos olhos os olhar sapeca
que forçado ela exibia
demonstravam a tempestade
que lhe passava na alma
enquanto o corpo vendia!

“Não cobro caro, seu moço,
não comi o dia inteiro
se tiver pouco dinheiro
eu faço por um almoço;
mas se acaso achar muito
me dá só o que puder
que se não bater em mim,
eu faço o que o senhor quiser;
-e só por cinco reais-,
mas se quiser me bater,
então tem que pagar mais!”

Geme um coração de pai,
tão alto quanto à turbina
que me arrasta o caminhão
no posto de gasolina,
mundo cão dos desiguais
cadê o Deus dessa menina?
Diz que justiça Ele faz,
e se é por esta que Ele prima!

JJ Braga Neto

VELHO



Velho

No rosto, as marcas do tempo,
lá estava o velho me olhando
com seu fardo de saudade
sob as costas carregando.

O tempo em que perdeu tempo
ficou no tempo marcado
eu vi nos olhos do velho
-que envelheceu prematuro-
em um relógio quebrado!

Eu vi a tristeza do velho
sob o peso de suas dores
lembranças de tantas mágoas
cicatrizes, dissabores.

Como areia de ampulheta
– que vai ao tempo escoando-
pude ler no olhar do velho
“Perdi o compasso a tempos,
de um tempo que está acabando”!

Mas vi nos olhos do velho
que firmes ele mantinha
forças geradas na calma
-chama que provém da alma-
que muito tempo ainda tinha.

Manquitóla de um joelho,
saí da frente do espelho
sorrindo pra aquela imagem,
do velho, que era a minha!

João Braga Neto

Prostituta.




Prostituta.

Quem será esta menina
ainda na puberdade
que à noite roda a calçada
seminua e maquiada
vendendo felicidade?

E vendendo a qualquer homem
o corpo ainda não formado
prá poder matar a fome
nesse maldito mercado
a sua infância consome?

Que será desse país
de extensões continentais
que põe ladrões no poder
que muito pode fazer
mas que dorme e nada faz?

E o que será o futuro
dessa nação conformista
da prostituta infantil
e o nosso, os malabaristas,
que vendemos o silêncio
e “grossas”, fazemos vistas?

João Braga Neto

Tenho medo


Tenho medo


Porque ainda te quero
Na solidão da saudade.
Nas noites que ainda choro
Pois quando dormir consigo;
É que nos sonhos te espero!


Medo
Em Páscoa, Ano Novo, Natais;...
Já se vão anos passados,
Que conto os aniversários
E nos meus aniversários
Como te quero;... e te espero!


Medo
Porque estou ficando velho
Tenho mais marcas no rosto,
Vejo mais dor nos meus olhos
Coração teimoso e triste
Porque lhe quer; não desiste!


Medo
Que se vá antes de mim
E que esse não seja o fim,
Porque sei que não desisto
E aí; vou ficar querendo
Agora que eu morra logo
Pra te encontrar no infinito!


João Braga Neto

23-11-06

TEMPO


TEMPO

Como voltar ao tempo
que não consegui sair,
Tempo que eu existia
e tempo que eu sentia;
Forma sábia de saber
e eu assim não sabia?

Como lembrar de um tempo
que esqueci de esquecer,
Que sinto, por ter sentido,
muito embora sem querer
Mesmo que hoje eu já saiba,
que era sábio sem saber?

Hoje que não se faz ontem,
é esse tempo que dura
Gotas de um mal maior;
amor, saudade e dor;
Que sabe, o sábio de ontem,
do tempo que nada cura?

João Braga Neto

Em 26-10-06